Arxius
Eugénio de Andrade, de Passeio Alegre a l’illa d’Ulisses
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Passeio Alegre
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Palmeres al Passeio Alegre, de Porto
Foto: Margarida Bico, a Panoramio
Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses tería comparado
a Nausícaa, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafíam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis — assim nuas.
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Eugénio de Andrade
Rente ao dizer
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Passeio Alegre
Arribaren tard a la meva vida
les palmeres. A Marràqueix en vaig veure una
que Ulisses havia comparat
a Nausica, però sols
al jardí de Passeio Alegre
vaig començar a estimar-les. Són altes
com els mariners d’Homer.
Davant la mar desafien els vents.
vinguts del nord i del sud,
de l’est i de l’oest,
per a doblegar-les per la cintura.
Invulnerables —així nues.
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Versió de Xulio Ricardo Trigo i Júlia Cortès Ortega
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A ILHA
.Tanta palavra para chegar a ti,
tanta palavra,
sem nenhuma alcançar
entre as ruínas
do delirio a ilha,
sempre mudando
de forma, de lugar, estremecida
chama, preguiçosa
vaga fugidia
do mar de Ulisses cor de vinho.
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Eugénio de Andrade
Oficio de paciéncia
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L’ILLA
Tanta paraula per arribar a tu,
tanta paraula,
sense assolir-ne cap
entre les runes
del deliri l’illa,
sempre canviant
de forma, de lloc, estremida
flama, peresosa
ona fugissera
de la mar d’Ulisses color de vi.
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Traducció d’Antoni Xumet Rosselló
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Ofici de paciència
Traducció d’Antoni Xumet Rosselló
Trucs i baldufes, 24
El Gall Editor. Pollença, 2008
ISBN: 9788496608818
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Ran del Dir
Versió de Xulio Ricardo Trigo
i Júlia Cortès Ortega
Biblioteca de la Suda, 8
Pagès Editors. Lleida, 1994
ISBN: 9788479351878
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Eugénio de Andrade. Príam i Aquil·les
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E o único que me restava, ele que sozinho defendia a cidade e o povo,
esse tu mataste quando ele lutava para defender a pátria:
Heitor. Por causa dele venho às naus dos Aqueus
para te suplicar; e trago incontáveis riquezas.
Respeita os deuses, ó Aquiles, e tem pena de mim,
lembrando-te do teu pai. Eu sou mais desgraçado que ele,
e aguentei o que nehun outro trerrestre mortal aguentou,
pois levei à boca a mão do homem que me matou o filho.
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Ilíada, XXIV, 499-506
Tradução de Federico Lourenço
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À sombra de Homero
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E mortal este Agosto – o seu ardorsobe os degraus todos da noite,não me deixa dormir.Abro o livro sempre à mão na suplicade Príamo – mas quandoo impetuoso Aquiles ordena ao velhorei que não lhe atormente maiso coração, paro de ler.A manhã tardava. Como dormirà sombra atormentadade um velho no limiar da morte?,ou com as palavras de Aquiles,na alma, pelo amigoa quem dera há pouco sepultura?Como dormir às portas da velhicecom esse peso sobre o coração?.José Fontinhas [Eugénio de Andrade]
(Póvoa de Atalaya, Beira Baixa, 1923 – Oporto, 2005)Eugénio de AndradeO sal da lingua.